
A seguir, relato de um furo imprevisto, ofertado ao repórter pelo então presidente do Grêmio, Fábio Koff.
"Vivi uma situação como repórter que ilustra o inusitado da profissão, de como as oportunidades às vezes caem em nosso colo e precisamos estar preparados para transformá-las em notícia crível, checada. Em 1997, como repórter de A Gazeta Esportiva, fui cobrir uma partida entre Grêmio e Corinthians, pela Copa do Brasil, em Porto Alegre. Após a partida, no dia seguinte, eu precisava encontrar o ex-presidente do Grêmio, Fábio Koff, hoje no Clube dos 13.Ele vinha travando uma guerrinha pela imprensa contra o então presidente da Federação Paulista, Eduardo Farah. A pauta era repercutir essa questão política que, no fundo, era disputa por espaço.
Liguei para o escritório de Koff e ele estava atendendo a um colega meu de outro jornal, cujo nome eu vou omitir por questão ética. Esperei a entrevista terminar, quando me telefonou no hotel a secretaria de Koff, dizendo que ele não poderia me receber, mas me atenderia por telefone. Topei, já que tinha vôo marcado para São Paulo no início da noite e não poderia esperar. Esgotei o assunto e, quando ia agradecer, ele me surpreende com a seguinte pergunta: “Tu sabes me dizer se o Felipão já assinou com o Palmeiras?”, referindo-se ao técnico Luiz Felipe Scolari, que estava no Japão e vinha sendo sondado por vários clubes brasileiros, entre eles o Grêmio, à época comandada por Evaristo de Macedo.
Caiu a minha ficha de que, ali, ele estava querendo me utilizar, como dirigente do Grêmio, para tentar atravessar uma possível negociação com o Palmeiras, sabendo da enorme repercussão que haveria com uma matéria na Gazeta, naquela época ainda um jornal de boa representatividade.
Respondi e joguei a isca, embora não tivesse nenhuma confirmação. Eu senti que quem tinha a notícia era ele, e ele queria contá-la: “Pois é, doutor Koff, parece que está tudo certo, só falta divulgar”.Ele morder e disparou: “Falei com o Felipe ontem, ele, que me chama de pai, disse: ‘Pai, não tem como dizer não é muito boa a proposta.’”
Ainda busquei algumas outras confirmações e as obtive. Koff, como dirigente influente do Grêmio, o presidente que tinha dado o chance a Felipão, estava se lamentando comigo: “É uma pena o Grêmio perder o Felipe para outro time brasileiro. O Grêmio hoje é uma idéia, e essa idéia é do Felipe”, choramingou. Agradeci e disparei uma ligação para São Paulo, checando a informação com o setorista do Palmeiras a época, o repórter Marcelo Tieppo. Batemos a notícia com três ou quatro fontes e não havia erro: Felipão era técnico do Palmeiras. Cravamos a manchete, enquanto o concorrente deu uma entrevista boa, mas morna com Fábio Koff. Durante dois dias houve uma série de desmentidos, até mesmo do próprio Felipão, mas confiávamos nas nossas fontes e bancamos a história, embora sob ameaças da direção da redação. Em menos de duas semanas, Luiz Felipe Scolari foi apresentado como técnico do Palmeiras e admitiu que havia mentido para esconder a negociação. Mas por sorte, aquela notícia caiu no meu colo e foi checada por um companheiro atento, num trabalho de equipe que rendeu um dos últimos grandes furos da fase final de A Gazeta Esportiva."
[Maurício Noriega – Comentarista do Sportv]
-Referências:
BARREIRO, H.; RANGEL, P. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006.
[Fabiana Pelinson]
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