terça-feira, 7 de julho de 2009

O Caso Paula Oliveira









O caso Paula Oliveira, brasileira que afirmou ser agredida por skin-heads na Suíça, sofreu vários problemas na sua divulgação na mídia nacional brasileira. Já que
a cobertura dos fatos nos primeiros três dias, era afirmativa e enfática, com o passar dos dias tornou-se condicional e sempre citando a expressão “segundo o relato da vítima...”. Mudou o tempo verbal, mudou a postura narrativa, surgiram novas versões, veio a dúvida e a indecisão, e os repórteres mais afoitos sentiram-se na necessidade de ir mais devagar com as divulgações. Enquanto isso a imprensa suíça ataca a brasileira, dizendo que ela expôs o seu país ao ridículo. Com os dados hoje disponíveis, se Paula estava grávida ou não quando teria sido atacada pelos skin-heads alemães, colocado diante dos relatos das autoridades policiais suíças, nota-se a exaltação exagerada da mídia brasileira diante dessa situação. O mesmo se dá para as mutilações no corpo da brasileira (se foram resultado de automutilação ou da violência sofrida dos jovens neonazistas).
E aí vem a questão: o jornalismo pode esperar? A cobertura de imprensa, que é feita a cada dia, pode aguardar o dia seguinte? A tal cobertura “em tempo real” pode ser adiada? Este “não poder esperar” é mesmo uma característica da atividade de imprensa ou de certo um tipo de imprensa? Alguns profissionais, e mesmo alguns teóricos do jornalismo, dizem que o jornal tem que noticiar a partir dos primeiros indícios. Caso embarque em canoa furada, desmente depois. Outros, partidários do jornalismo investigativo, já são mais cautelosos com o andar dos fatos, conhecendo bem o caminho tortuoso das fontes e das assessorias. Voltando ao caso Paula Oliveira esse se complica, sente-se que as primeiras notícias foram açodadas. Na sua encenação ritual, em que fluem notícias a cada momento, as partes podem não significar o todo – os já ditos seriam notícias falsas ou contraditórias . A mídia, dotada de um discurso competente, acaba blefando, e aí as retratações valem menos do que as tomadas iniciais de posição. Ossos do ofício? Culpa das narrativas? Da mobilidade dos fatos? Do declínio do jornalismo investigativo? é o que fica no ar.




Renata Camargo

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